“Não podemos abrir espaço para o populismo e para medidas mágicas”. Com esse alerta, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso discursou no painel de abertura do 2º Fórum IEL de Gestão. Sob o tema “Qual o propósito de um país?”, Cardoso analisou o cenário político que antecede as eleições presidenciais e as perspectivas e desafios para o futuro governo.

Diante de uma plateia formada por lideranças industriais, Cardoso criticou o modelo de representação partidária atual, que favorece a criação de “grupos fragmentados”. “Nossa cultura é paternalista, personalista e patrimonialista. Se um líder junta um grupo de pessoas, ganha acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV, ganha poder de barganha”, lamentou.

“O fenômeno que acontece no Brasil é global, as democracias estão abaladas. A sociedade vai aplaudir quem tome as medidas necessárias, mas sem crescimento econômico nada será resolvido. E isso não é simples. Não podemos abrir espaço para o populismo e para quem propõe medidas mágicas. Não há soluções mágicas, o que há é trabalho”, sentenciou.

Questionado pelo presidente do Sistema Findes, Léo de Castro, sobre as reformas para o país, Fernando Henrique lembrou que é preciso pensar no futuro. “Reformas são difíceis na democracia, mas é preciso olhar além das opiniões imediatas. Mesmo sendo mal visto por alguns grupos, se a ameaça é generalizada, é preciso tomar medidas difíceis”, explicou o ex-presidente.

“Precisamos de um presidente que seja simples no diálogo com a sociedade, apresente capacidade de juntar as pessoas, mas também tenha experiência para lidar com o Congresso. Olhem mais para o que o candidato fez, não apenas para o que diz. Governar é mais que saber falar, é respeitar o outro, praticar a tolerância numa democracia”, adiantou Cardoso.

Na análise econômica, o ex-presidente lembrou o exemplo da Coreia do Sul e priorizou a agenda da produtividade. “A nova matriz econômica foi um desastre porque não adianta aumentar o consumo se não há produtividade. Nosso desafio é retomar o investimento e a competitividade, o que também exige capacitação e educação”, avaliou Fernando Henrique.

Por Rafael Porto

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